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'O Fim e o Princípio' de Eduardo Coutinho



'O Fim e o Princípio' é o novo documentário de Eduardo Coutinho - nono da carreira de diretor - que tem no currículo filmes como Edifício Master (2002) e Peões (2004). Com este recente trabalho, o cineasta realiza um antigo sonho de chegar em algum lugar do sertão nordestino e, com uma câmera na mão e nenhuma idéia na cabeça, partir do grau zero do documentário. Simplesmente procurar pessoas interessantes para conversar e ouvi-las contar histórias de vida e de morte.


"Haveria de ser um ambiente não urbano, qualquer sertão por aí. E eu trabalharia sem nenhuma pesquisa prévia. Se todas as tentativas falhassem, então o tema poderia ser a própria busca do filme", conta.


E é nessa busca que ele vai parar no município de São João do Rio do Peixe, sertão da Paraíba, e lá descobre o Sítio Araçás, uma comunidade rural onde vivem 86 famílias, a maioria ligada por laços de parentesco.


Graças à mediação de uma jovem de Araçás, os moradores – a maioria idosos – contam sua vida, marcada pelo catolicismo popular, pela hierarquia, pelo senso de família e de honra – um mundo em vias de desaparecimento.


"Eu gosto muito da Paraíba, e não só porque foi onde filmei 'Cabra Marcado para Morrer' (1964-1984). Na Paraíba, historicamente, houve uma quantidade enorme de poetas populares. Mas poderia ser noutro Estado do Nordeste. Existe no sertão um talento oratório e uma qualidade de imaginário que não se encontram em outros lugares. A riqueza da expressão é tamanha que os assuntos em si viram secundários. Para fazer um filme de fala, eu supunha, o melhor seria no sertão", atesta.


O documentário acontece em mais uma parceria com a Videofilmes e contou com a produção executiva de João Moreira Salles e o trabalho do cinegrafista Jacques Cheuiche, do técnico de som Bruno Fernandes, da assistente de direção Cristiana Grumbach, da diretora de produção Raquel Freire Zangrandi e do assistente de câmera Ivanildo Jorge da Silva. Um prêmio da Petrobras garantiu o orçamento básico, que incluía quatro semanas de filmagem.


Salles comenta sobre o seu interesse em acompanhar de perto o filme de Coutinho: "A nossa fé, digamos assim, não estava no tema, mas no método. É claro que quando você sai em busca de alguma coisa, o que você encontra é aquilo que mais lhe interessa. Se eu fizesse esse filme, fatalmente acabaria encontrando coisas diferentes".


Coutinho, por exemplo, encontrou Rosilene Batista de Sousa (Rosa), a mediadora do documentário. A princípio, ele levava um repertório de alternativas de abordagem, algumas de cunho sociológico, como "um dia na vida de um beneficiário do Fome Zero". Mas todas as opções da bagagem foram logo abandonadas após a descoberta de Rosa.


"Queríamos encontrar alguém que servisse como um mediador, guiando o Eduardo de casa em casa. Precisávamos localizar um povoado com poucas moradias e uma área comum em que as pessoas interagissem. Começamos, então, a receber sugestões, esboços de mapas etc.", conta Salles.


Casualmente, uma hóspede do hotel onde a equipe do documentário estava hospedada fala a respeito de Rosilene Batista de Sousa, a Rosa, jovem professora ligada à Pastoral da Criança, que mora num sítio a 6 km de São José do Rio do Peixe, sem telefone. O bom entendimento entre Rosa e a equipe foi imediato e determinante para transformá-la na personagem de transição entre os dois mundos.


"Na primeira fase do documentário, eu estava sendo completamente ingênuo. Achava que poderia esquecer o mediador, chegar primeiro com o microfone, a câmera dissimulada, pedir licença e ir conversando. Dessa forma, tendo somente um mês de filmagem, eu certamente iria me estrepar. Sem a Rosa, não teríamos filme, ou ao menos, esse filme. Aparentada de quase todos, ela chegava pedindo a bênção ou falando alguma coisa que imediatamente criava a intimidade propícia à conversa que se seguiria diante da câmera", relata Coutinho.


Segundo Salles, esse filme é um desejo intenso de se comunicar. Até mesmo com uma mulher que não fala ou com um homem que não ouve.


Já para Coutinho, foi a filmagem mais feliz de sua vida, em que foi movido mais pela afetividade do que por qualquer tipo de curiosidade sociológica.


(© JB Online)

QUEM É EDUARDO COUTINHO?


EDUARDO COUTINHO é uma dos maiores documentaristas brasileiros. Seu trabalho é reconhecido pelo alto grau de humanidade sem ser sentimental. Em suas produções apresenta os problemas e aspirações dos marginalizados dando voz ao invés de manipular. Consegui ser político sem ser panfletário.


A formação de Coutinho passa pelo jornalismo, teatro e cinema tendo, curiosamente, cursado Direito em São paulo. Foi revisor e copidesque da revista Visão (1954-1957) e segue para a França estudar no Institut des Hantes Études Cinématographiques (IDHEC) onde, durante esse período, passa também por uma experiência teatral, dirigindo "Pluft, o Fantasminha, de Maria Clara Machado.


COMO TUDO COMEÇOU...


Inicia sua carreira cinematográfica na ficção, dirigindo e roteirizando longas em parcerias com Leon Hirzsman, Eduardo Escorel, Bruno Barreto e Zelito Viana. Entre as filmagens desses longa-metragens, integra-se a vários projetos do CPC da UNE, que lhe possibilitaram os primeiros passos no caminho de documentarista.


Em 1975 integra-se à equipe do Globo Repórter, onde ficou durante nove anos e, segundo o próprio Coutinho, foi uma grande escola que o fez optar pela carreira de documentarista. Os documentários eram o "sujo" que maculava o padrão Globo de qualidade, tornando-se um diferencial também pela abordagem aprofundada dos temas.


Durante sua passagem pelo Globo Repórter realizou Seis Dias em Ouricuri (sobre a seca e a dificuldade de trabalho no sertão), O Pistoleiro de Serra Talhada (sobre o banditismo no nordeste), O Imperador do Sertão (sobre o coronel Teodorico Bezerra) e O Menino de Brodósqui (sobre o pintor Portinari).


CABRA MARCADO: DIVISOR DE ÁGUAS


Seu primeiro grande sucesso foi Cabra marcado para morrer. A sua produção foi iniciada em 1964. O documetário conta a história política do líder da liga camponesa de Sapé (Paraíba), João Pedro Teixeira, assassinado em 1962. No entanto, com o golpe de 31 de março, as forças militares cercam a locação no engenho da Galiléia e interrompem as filmagens.


Dezessete anos depois, o diretor Eduardo Coutinho volta à região e reencontra a viúva de João Pedro, Elisabeth Teixeira -- que até então vivia na clandestinidade -- e muitos dos outros camponeses que haviam atuado no filme antes brutalmente interrompido.


Após o sucesso de Cabra Marcado, Coutinho sai da equipe do Globo Repórter e passa a dedicar-se à produção de documentários em vídeo, além de roteiros de séries para a TV Manchete, como 90 Anos de Cinema Brasileiro e Caminhos da Sobrevivência, de Washington Novaes (sobre poluição em SP).


A partir de 1999, volta à direção de longa-metragens em video digital (posteriormente transferidos para 35mm), realizando Santo Forte (sobre religiosidade popular, através de depoimentos de moradores da favela Vila Parque da Cidade, RJ), premiado como melhor filme no Festival de Brasília.


Em seguida, seguindo os mesmos moldes, filma o longa-metragem Babilônia 2000, no morro da Babilônia, RJ. Do mesmo modo que em Santo Forte, o filme é calcado em depoimentos de moradores, que na virada de 1999 para 2000, dessa vez revelam seus sonhos, frustrações e expectativas para o terceiro milênio.


Filmografia

Roteirista e Diretor:

1966: ABC do Amor (2o. Episódio: O Pacto) (ficção, 35mm);

1968: O Homem que Comprou o Mundo (ficção, 35mm);

1970: Faustão (ficção, 35mm);

Globo Repórter (médias-metragens) - redator, diretor e editor

1976: Seis Dias de Ouricuri /Pistoleiro da Serra Talhada;

1978: Teodorico, Imperador do Sertão;

1980: Portinari, o Menino de Bodosqui;

1981-1984: Cabra Marcado para Morrer (documentário, 35mm)

1987: Santa Marta: Duas Semanas no Morro (média documentário em vídeo);

1989: Volta Redonda, o Memorial da Greve (média documentário em vídeo)

1989: O Jogo da Dívida (média documentário em vídeo)

1991: O Fio da Memória (documentário, 35mm) (Cem Anos de Abolição);

1992: Boca de Lixo (média documentário em vídeo); (rot/dir); e A Lei e a Vida (média documentário em vídeo)

1994: Os Romeiros do Padre Cícero; (média documentário em vídeo)

1999: Santo Forte (documentário, 35mm)

2000: Babilônia 2000 (documentário, 35mm)

2002: Edifício Master

Como roteirista:

1965: A Falecida, dirigido por Leon Hirszsman (ficção 35mm);

1967: Garota de Ipanema, dirigido por Leon Hirszsman (ficção 35mm);

1973: Os Condenados, dirigido por Zelito Viana (ficção 35mm);

1975: Lição de Amor, dirigido por Eduardo Escorel (ficção 35mm);

1976: Dona Flor e Seus Dois Maridos, dirigido por Bruno Barreto (ficção 35mm);

1985-1986: Episódio de "Caminhos da Sobrevivência" (série para TV Manchete de Washington Novaes)

1988: 90 Anos de Cinema Brasileiro (série para TV Manchete em vídeo);



PROGRAMAÇÃO DE OUTUBRO


ESPECIAL

EDUARDO COUTINHO


DIA 19/10 -
Jogo de Cena



















Gênero: Documentário

Duração: 105 minutos

Ano de Lançamento(Brasil):
2007

Classificação:
Livre

SINOPSE

Atendendo a um anúncio de jornal, 83 mulheres contaram sua história de vida em um estúdio. 23 delas foram selecionadas, em junho de 2006, sendo filmadas no Teatro Glauce Rocha. Em setembro do mesmo ano várias atrizes interpretaram, a seu modo, as histórias contadas por estas mulheres.


DIA 26/10
- O Fim e o Princípio




















Gênero:
Documentário

Duração: 110 minutos

Ano de Lançamento (Brasil): 2005


Classificação:
Livre


SINOPSE

Um filme nascido do zero. Sem pesquisa prévia, sem personagens, locações nem temas definidos, uma equipe de cinema chega ao sertão da Paraíba em busca de pessoas que tenham histórias pra contar. No município de São João do Rio do Peixe, o filme descobre o Sítio Araçás, uma comunidade rural onde vivem 86 famílias, a maioria ligada por laços de parentesco.

Sim, nós voltamos!!!

Um iniciativa da Associação Artística de Imperatriz, o projeto Cinema no Teatro realiza desde 2001 sessões de cinema com filmes uma vez por semana, abertas à comunidade Imperatrizense.

O projeto é a única forma de acesso pública e gratuita à clássicos, produções alternativas, que estão fora do circuito comercial e, principalmente, filmes nacionais.

Depois de ser aprovado no edital de Pontos de Difusão Digital, o projeto esteve em altos e baixos, mas agora está de volta.

Contamos com vocês nas sessões!

Viva o cinema!

 

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