Você está lendo

Sessão dia 23/11 - CÉU DE SUELY

Quem inventou a parábola do filho pródigo, aquele que à casa torna, não conhecia Hermila.

A protagonista de O Céu de Suely (2006) está de volta a Iguatu, interior do Ceará, depois de passar um tempo em São Paulo. Traz o filho pequeno no colo, à espera de Mateus, seu amor, que ficou na cidade grande e logo virá. As coisas não mudaram muito na sua cidade natal. Os chegados, as prostitutas, os moto-taxistas são todos os mesmos. A terra, as ruas, o posto de gasolina são todos os mesmos.

Hermila telefona para São Paulo. Mateus mudou-se sem dizer para onde. Na rodoviária de Iguatu nada dele apacecer.


Como nas trajetórias clássicas do eterno retorno, Hermila de repente atina que está só. Tia e avó a acolhem como a filha que enfim regressou, mudada pelas circunstâncias, agora com uma mexa loira no cabelo ruim. Mas Hermila perdeu o amor numa promessa de reencontro e agora precisa dar novo rumo à sua vida. Iguatu não é uma lavoura arcaica, não há acerto de contas, revisões do passado, não há redenções. Hermila só precisa sair novamente desse lugar-nenhum.

Falta dinheiro para o ônibus. Ela decide rifar uma noite de sexo. E inventa que seu nome é Suely.

O Céu de Suely é um filme emocional que permite leituras cerebrais. Mesmo sabendo que aquele final extraordinário foi pensando para desarmar nossas convenções, nossas facilidades, nosso sentimentalismo de cinema-ficção-padrão, ficamos esperando Hermila na garupa. É uma emancipação, para a personagem e para nós, mas não dá para evitar. Pode ter se passado meia hora do final da sessão, ainda espero Hermila na garupa.

adaptado: www.omelete.com.br



Comentários desta postagem

deixe seu comentário

 

Copyright 2010. Todos os direitos reservados.

RSS Feed. Este blog usa o serviço de hospedagem do Blogger e o tema Modern Clix, desenvolvido por Rodrigo Galindez e customizado por Fernando Ralfer.